sexta-feira, 1 de julho de 2011

O tempo do outro

Einstein disse, não sei se compreendi, que não há como medir o tempo se não for em relação ao espaço. Para saber que o tempo está passando olhamos para o deslocamento do sol, para o avançar dos ponteiros do relógio, para a areia que desce pelo gargalo da ampulheta, para o novo X no calendário, ou para o que resta da vela que derrete. Sempre o espaço é a referência.
Parece que a tese revolucionária derivada disso é que não há como verificar a passagem do tempo de forma objetiva se não apelarmos para o espaço, fora isso, o passar do tempo é subjetivo. Depende de como se sente transformada cada vítima do viver, a cada momento vivido. Passam meses e podemos nos sentir iguais, ou  reconfigurados completamente pela vivência de alguns poucos instantes. Portantanto, por uma razão ou por outra, é relativo mesmo o transcorrer do tempo.
Penso que o desencontro de pessoas que se amam tem muito a ver com isso, com o peso relativo que as experiências compartilhadas tem para a modificação de cada um dos parceiros. Muitas vezes avança veloz o tempo para um, enquanto o outro permanece "e vice versa, ou não", como diria Gilberto Gil.
Atenção e respeito para com o tempo do outro, me parece um bom conselho para quem deseja seguir acompanhado na vida por uma companhia escolhida.
Uma vez, escalei um pico com minha companheira escolhida. Ela cansou mais, eu menos. Esperei, puxei, empurrei e chegamos juntos ao alto. Foi linda a visão! Desfrutamos juntos e por isso foi linda.
Outras vezes a escalada é mais tortuosa e os cansasos extremos e individuais se revezam sem que nenhum tenha forças suficientes para tracionar o outro. Nesses casos é melhor reavaliar o próprio tempo, mas sem esquecer o tempo do outro. Se não for assim, o êxito individual pode proporcionar uma bela visão, mas nunca tão bela quanto aquela que se compartilha com quem se ama. Se não for assim, parar no meio do caminho sempre será derrota e não apenas uma pausa para retomar o fôlego, compartilhar a água e, quem sabe, decidir juntos, voltar.