Fico espantado com a disposição da média relativamente intelectualizada e de seus gurus da imprensa para infantilizar qualquer debate que poderia receber um tratamento maduro e produtivo. É o caso da mais recente polêmica nacional: a dos cartões corporativos. Não quero contribuir com o palavrório que acaba por roubar qualquer sentido de tudo aquilo que tenta explicar e, por isso, vou apenas resgatar algumas assertivas preliminares que me parecem úteis a quem realmente quer manter os pés no mundo real e, quem sabe, trabalhar pela sua melhoria.
1. Se não houvesse potencial de corrupção no ser humano e consequentemente no administrador público, não seriam necessários leis, organização e controle. Isso quer dizer que quanto melhores as leis, a organização e o controle, menores as possibilidades da pulsão de corrupção aflorar. Esse regra independe da religião, cor, classe social, partido político, ou nível intelectual do agente público, dependeria sim da sua moralidade e quem sabe das palmadas que levou dos pais quando iniciaram suas primeiras reações anti-sociais. Mas é arriscado demais confiar nisso.
2. Os cartões corporativos são um tremendo avanço no que diz respeito ao controle, já que o sujeito passa o cartão alí na choperia e o gasto aparece no Portal da Transparência para que todo mundo possa ver.
3. As CPIs são comissões de investigação e não forças tarefas que cercarão a casa do assessor do minstro para levá-lo à cadeia por que usou o cartão corporativo para enviar flores à amante. Nesse caso, se a mesma energia utilizada para uma CPI fosse utilizada para a elaboração de um manual de utilização ética do cartão e para efetivar a implicação de culpados, o país certamente ganharia muito mais, pois um instrumento que já está funcionando, funcionaria melhor. Não esqueçamos que todo o debate só é possível porque a CGU mantem o seu portal.
4. A imprensa, que contribui no início dando visibilidade aos dados da CGU, não contribui mais quando se torna obsessiva em querer saber se a tapioca era doce ou salgada. Já não faz mais diferença, é claro que havia irregularidades no uso e é claro que os culpados precisam ser punidos, mais importante agora, porém, é envolver a sociedade civil na criação de mecanismos melhores de controle e é nisso que uma imprensa cidadã, não espetacular e não mesquinha deveria se empenhar.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
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