Não posso mais guardar esse segredo! E estou disposto às conseqüências que essa revelação me trará. Fidel Castro não está doente, ao contrário, goza de um vigor apenas comparável ao que tinha ainda na Sierra Maestra no ano de 1958.
Encontramo-nos no último dia 21 de Julho de 2009 no café Le Dome em Montparnasse, Paris. Estávamos minha mulher, eu, um renomado escritor cubano com sua esposa e Fidel com uma bela e jovem amiga. Havia também, pelos arredores, uma discretíssima dupla de seguranças. Obviamente o Comandante não se fazia reconhecer, embora chamasse a atenção pela distinta elegância. Sr. Oscar era como deveríamos chamá-lo em público e era como estava em seu passaporte dominicano. Estava sem barba, com um terno de linho cru e um chapéu Panamá de incrível maciez. Portava um bengala fina com cabo de marfim e uma topázio bruto encrustado. Disse que foi presente pessoal de um diplomata turco recebido em Havana em 1972; pertenceu a um sultão cujo nome não consegui guardar.
Tomamos todos, no melhor estilo do verão parisino, Pernod com água Badoit e gelo. O amigo escritor, porém, fez questão de profanar o ritual pedindo também uma taça de vinho rosé. Napoleão certamente cuspiria, ao primeiro gole, aquela vulgar poção. Fidel, no entanto, provou e não achou tão ruim. Confessou que, por puro preconceito, nunca havia tomado o rosé.
Prefiro não entrar em detalhes sobre a razão do encontro ou, ao menos, não sobre o sentido da minha presença na tal tertúlia. Esclareço, apenas, que fazia parte de nossas tratativas não falarmos nem de política, nem de religião e nem de baisebol. Também não seria tolerada qualquer palavra sobre meu avô ou, menos ainda, sobre o irmão dele. Mesmo assim, com o secar da garrafa, fomos falamos um pouco sobre tudo isso. Mas tratamos de muitos outros e mais atuais assuntos. Fiquei surpreso ao saber que até sobre a Cásper Líbero, “Oscar” tinha algo a dizer. Nada muito relevante, apenas impressões colhidas durante entrevistas concedidas a um ou dois velhos jornalistas brasileiros que passaram pela casa. Impressionaram-me, porém, os detalhes, por vezes reveladores, guardados na memória.
Fidel permaneceria em Paris apenas até o dia seguinte, depois embarcava para Salvador na Bahia em vôo comercial e, de lá seguia para Assunción, onde compareceria a uma cerimônia de batizado, a primeira além da sua própria em que estaria presente. Estava ansioso com o evento que seria coordenado por um velho amigo de pouca expressão. Sabia de quem se tratava e aproveitei para enviar, por ele, minhas felicitações pela tardia paternidade. Esclareço, para evitar especulações, que não se tratava de Lugo.
A história do trivial batizado que tanto excitava o Comandante acabou derivando para aquilo que considero, o mais significativo daquele encontro. Num dado momento, meio sem pensar, perguntei a queima roupa, por que é que ele estava deixando o mundo inteiro naquela angustia, para o bem e para o mal, sobre o seu estado de saúde, enquanto ocupava-se de uma cerimônia de batizado. Lembrei do rei espanhol que simulou seu próprio velório para testar a devoção dos súditos e perguntei se tratava-se da mesma vaidade.
Tive um certo arrependimento ao ver que as primeiras lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Fidel. Polyana, minha mulher, tentou amenizar mostrando-nos, atrás de mim, uma foto de Picasso ao lado do velho garçom que nos servia. Não adiantou, Fidel iniciou, já emocionado, um daqueles discurso que o caracterizam. Falou de seus sonhos sobre Cuba e os cubanos; dos livros que o encantaram; dos amores que adiou; das “mierdas” que fez e tolerou; das noites mal dormidas; da incompreensão que o vitimou. Falou, quase uma hora, das mudanças que o mundo sofreu e mais outra hora de sua impossibilidade de compreender o ser humano. Por fim, enxugou os olhos e disse que agora queria viver, incógnito, um pouco de tudo aquilo que renunciou e combateu. Disse que, assim, todos pensando que convalescia em sua residência havaneira, poderia finalmente andar pelo mundo e ver, em seus últimos anos de vida, as grandes coisas que impediram o seu pleno triunfo . Concluiu, restabelecido e bem humorado, dizendo à Polyana que o garçom não parecia ter envelhecido tanto quanto ele. Falou que servir turistas intelectuais talvez seja uma tarefa menos desgastante do que tentar mudar o mundo e os homens. Corrigiu ainda a fala dizendo, meio sem graça, “o mundo, os homens ‘e as mulheres’, é claro”.
O rumo da prosa mudou, Fidel falou que na manhã seguinte ainda fariam, ele a e amiga, um passeio de barco pelo Sena, brincou, em confissão, que faltava muito para que Havana fosse mesmo a Paris do Caribe, “mas, venceremos!”, disse em tom oficial.
O amigo cubano fez questão de pagar a conta. Nos despedimos na boca do metrô Montparnasse. Ficamos, Polyana e Eu, de tentar reencontrar Fidel e sua amiga em Istambul quinze dias depois.
Em Istambul, um litígio com certo taxista acabou nos levando à delegacia e acabamos perdendo o encontro. No dia seguinte viajamos ao Chipre e não tivemos mais noticias dos amigos.
No Brasil os jornais publicaram que durante a inesperada visita de Raul Castro à Bahia, dona Dirce dos Santos afirmava ter visto Fidel Castro ao lado de uma moça nova e com um copo na mão. Não era mentira.
domingo, 16 de agosto de 2009
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Um comentário:
Ahh não!!! Isso é verdade?? Tô em choque "vermelho" até agora...
Depois do desabafo...
A Letícia me contou esses dias que você seria papai e por este, confirmo a boa nova. Parabéns!!!! Parabéns pra vocês três!!!
Beijo grande.
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