Não vou entrar no mérito freudiano do que pode significar querer para caralho alguma coisa. Nem por isso me sinto imune às possíveis implicações que isso, ou a falta disso, podem vir a ter na elaboração de um diagnóstico a meu respeito. Mas às vezes faz falta querer alguma coisa para caralho.
Estou simplesmente me apropriando da expressão consagrada para discutir a falta de um querer cego e, ao mesmo tempo, motivador, impulsinador do agir de um indivíduo.
Considero que esse tal querer cego pode ser tanto uma paixão quanto um valor e não descarto que ambos possam se contraditar. Aí começa o problema. As paixões são ambivalentes: malucas e nocivas ou construtivas e deliciosas fazem com que nossos corpos se movam, seja em direção à dor ou ao regozijo. Nunca se sabe. Mas, de alguma forma, há negociação entre nós e elas, temos algum recurso, menor ou maior, para tentar discipliná-las. Talvez sejam um querer mais externo a nós mesmos. Já com os valores é diferente, eles são fundamentais, tragam-nos alegrias ou infortúnios, nos embates do dia-a-dia, deles não nos desviamos sem prestar contas a nós mesmos.
As paixões nos fazem mover, quase sempre, com impeto e agilidade; os valores, quase sempre, com cuidado e parcimônia. Às vezes os valores também nos fazem mover com ímpeto e vice-versa.
A questão é: tanto as paixões quanto os valores podem ser conscientes ou inconscintes. Creio, contudo, que por mais estranho que pareça, tendemos a ser mais conscientes com as paixões do que com os valores que carregamos, ainda que não sejamos muito conscientes quanto as nossas paixões. Ou seja: sobre nossas paixões, ainda somos capazes de alguma malícia, quando somos; com os valores não.
Bem, mas como disse antes, considero as paixões e os valores como duas categorias do "querer para caralho". Creio que a primeira é mais passível de ser reconhecida por nós mesmos, mas, e a segunda, como reconhecer? A primeira tem sempre motivação externa e determinada, mas e a segunda, qual sua motivação e qual sua devoção?
Talvez, ao contrário do que propus, os valores não sejam simples quereres, mas sim quereres profundos sem querer. Seja como for, sentir a falta disso, é um pouco se perder. Dá uma vontde desesperada de se apaixonar pelos próprios valores. Mas para isso é preciso transformá-los em objeto externo, pois só assim seremos capazes de nos apaixonar por eles. Volto então à estaca zero: e se não sei deles?
Estou me interrogando sobre os meus valores, enquanto isso resisto às paixões, delas não conheço sempre os resultados, claro que não, mas sei um pouco mais sobre como operam em mim.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
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Um comentário:
Realmente as paixões impulsionam nossas vidas, seria triste a estagnação, em meu caso creio que a própria aversão a estagnação seja uma paixão. O parar me desmotiva ao ponto de na inércia total só conseguir pensar que preciso fazer algo, preciso do movimento, não sei viver sem paixões, é um fato...Me angustia ver as pessoas se deixarem levar pelas marés, queria aprender isso, mas ai já não sei como.
Gostei muito do blog professor, faz pensar!
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