Conheci um ex-padre que resolveu virar padre de novo. Achei tão curioso quanto acho essas histórias de homens e mulheres que casam mais de uma vez com a mesma pessoa. Não acho que seja impossível funcionar da segunda vez melhor do que funcionou da primeira, mas penso que um dos sinais da neurose é tentar obter resultados diferentes realizando os mesmos procedimentos. E desconfio bastante de mudanças significativas nos procedimentos dos indivíduos sem árduo esforço. O passar do tempo, puro e simples, não transforma ninguém, apenas envelhece e reforça os traços.
Quis saber se por traz da decisão havia algum real aprendizado. Padre Humberto garantiu que sim. Constatou que o prazer do sexo é um prazer incerto e efêmero, mas que exige sempre alto investimento; que os pecados capitais são mesmo nocivos ao indivíduo e/ou à coletividade; que a paternidade é uma fantasia, mas a maternidade é real; que sem farda, capital ou título ninguém se faz ouvir, e que sem fé é triste viver.
Achei tudo bastante convincente e já estava pronto à abençoar sua sapiente decisão. Mas quando falou também de uma certa saudadezinha das missas das seis no domingo, recobrei logo o meu juizo. Afinal, quando queremos outra coisa, queremos só pelo fascínio quanto ao que não temos? Ou queremos outra coisa porque já não suportamos mais o que temos? Se era tão boa a missa das seis, por que deixar a batina? Não teria o padre Humberto deixado de aprender que junto com as missas de domingo vinha uma porção de outras coisas que o asfixiaram? É certo que desejamos sempre o que nos falta e que, aquilo que abandonamos, pode nos faltar de novo. Mas e as razões do abandono, especialmente aquelas que não tinham a ver com o que faltava, mas sim com o que se tinha de fato? Negamos isso? Acreditamos que tudo isso mudou só porque estivemos longe enquanto o tempo passou?
Talvez o padre Humberto logo sinta falta daquilo que está abandonando agora para retomar o que tinha abandonado antes. Se é assim, não seria pelo menos mais divertido tentar um erro novo?
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
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