Tem coisas que são tão óbvias que eu não sei por que é que leva tanto tempo para a ficha cair. A sorte é que, com sorte, um dia ela cai e pode ser da maneira mais inusitada. Numa noite dessas uma linda garçonete conferiu-me esse privilégio tão necessário. Cheguei primeiro e queria uma mesa para três - na verdade achava que seria para dois. Já encostado no balcão, ela pediu meu nome e, muito sincera, me disse que se empenharia em conseguir a mesa. Tive certeza de que, por alguma razão, ia mesmo. Acontece que, depois de algum tempo e algo impaciente, abandonei o meu posto e fui até a porta. Voltei depois ao balcão, já com a minha companhia. O bar estava mais cheio e percebi que a disputa por mesas havia se acirrado. Segurei Fabiana pelo braço na primeira oportunidade e interroguei com o olhar sobre a mesa prometida. Sem que ela retirasse o sorriso profissional, senti que me passou uma descompostura. Disse que minutos antes havia uma mesa, mas que eu não estava mais. Pensou que eu tinha desistido. Senti que deu-me outra chance, mas enquanto isso havia me dado era uma bela porrada. Ficou na minha cabeça o eco de sua voz: "não estava mais... desistido".
A ficha caiu: quando queremos alguma coisa de alguém, temos que nos fazer presentes. Quando não mostramos que estamos, é mais certo os outros não pensarem em nós, ou pensarem que desistimos, mesmo que não tenhamos. Não é óbvio?
Desculpas e justificativas pela nossa ausência podem ter lá os seus encantamentos, mas é só na nossa presença que a nossa vida relamente acontece. Quem não se fizer presente no que quer viver, não vai viver. É assim, me revelou uma linda garçonete.
Nos sentamos finalmente... e a vida seguiu entre os presentes.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Professor,
seu texto me causou o choque de realidade que eu precisava.
Obrigada por ter me ensinado tantas coisas ao longo destes 4 anos de convivência, mesmo que breves ;)
Tenho seu blog anotado em todos os meus cadernos da faculdade, mas só hoje vim conferir e creio que foi no momento certo.
Obrigada mais uma vez.
Farei-me presente.
bjOx,
Thay
Coisa simples não!... Às vezes, tão simples que duvidamos mesmo se são de fato simples o quanto parecem ser. Às vezes não parecem, "coisas simples", parecem apenas enganadoras... Mas ainda bem que "quando a ficha cai" a verdade das simplicidades também podem cair, ou melhor, como desdobramento, emergir, e assim, todo o presente se fazer presente e como um "presente"...
Eu, às vezes me ausento, no sentido da carcaça que carrega o meu corpo estranho dia após dia do trabalho para casa e da casa para o trabalho... Mas sempre que me livro da carcaça já condicionada pelo esquema da vida de abelha operária, tento fazer a ficha cair e me fazer presente, em palavras, mensagens via celular, telefônemas, cartas "à moda antiga", gritos pela janela do carro, fotografias anexadas à e-mails e visitas surpresas. Às vezes, nem isso consigo... Mas quem já se fez de fato presente com verdade sincera na vida de alguém, deixou alguma coisa impregnada que se nos recordamos, nos recordaremos daquilo como algo bom... (o bom, na sua multiplicidade de significados)
Se tenataram ou acreditaram estar presentes alguma vez em minha vida, em algum peculiar ou "banal" momento, e não o esteviram presentes com verdade sincera - e não digo das minhas verdades; digo das verdades dos outros para comigo -, de pouco ou nada se recordarão que um dia se "fizeram presentes", tão pouco, talvez, eu. E isso é um tanto deprimente de se pensar, por que nessas horas em que as fichas vão caindo, também podemos sentir uma certa melancolia, solidão e dor... ,pura e simplesmente por ter percebido o quanto de tempo presente foi só "ausente".
Mas ainda bem que em contrapartida há sempre tempo, ainda que pareça pouco: todo pouco é todo quando ocupa o vago.
Ainda bem que antes de tudo temos a nós mesmos, e temos também um mundo por aí de gente como a gente... E assim, quando a gente topa com essa gente e vemos nos olhos delas o quão presentes elas verdadeiramente estão presentes - seja do modo como elas se apresentem - podemos até pensarmos e nos sentirmos alegres e consistentes sobre o instante, e sobre futuro... ainda que o futuro se nos apresente líquido e relativamente distante.
Sr. Newton Duarte Molon, com todo respeito, o Sr. se fez e ainda se faz bastante presente. Em minha vida deixou marcas profundas. Sala de aula, conversa de corredor, cerveja sob o balcão, espaço de profissão, abrigo pra amigo perdido no cotidiano de abelha.
Bj. Cássio
Olha só... me caiu como uma luva..
então me faço presente... Lembrei de ti por esses dias.
Agora escrevo para você lembrar de mim hehe..
beijos
Cássia
Olha só... me caiu como uma luva..
então me faço presente... Lembrei de ti por esses dias.
Agora escrevo para você lembrar de mim hehe..
beijos
Cássia
Postar um comentário