terça-feira, 22 de setembro de 2009

Reforma Política

No debate nacional sobre a chamada "Mini Reforma Política" fiquei contente ao saber que algumas cabeças mais arejadas conseguiram reverter as proibições quanto ao uso da internet em campanhas políticas. Lamento, porém que a argumentação dos intrépidos combatentes restrinja-se apenas a questões como o barateamento dos custos de campanha e o direito democrático à livre expressão. Estou esperando, porém, alguém que trate do caso com mais profundidade e com mais engenho.
Acredito que exista sobre isso um certo distúrbio de visão. Não me considero, nem de longe, um dos entusiastas da Internet. Esconjuro o engajamento que faz ver na "rede" o caminho da redenção. Apenas entendo que hoje, um grante contingente da população mundial - especialmente o mais jovem - simplesmente "vive", boa parte de sua vida, em comunidades virtuais. Não estou dizendo que se "comunicam" pela Internet, estou dizendo que dedicam sua "existência concreta" às relações propiciadas pela rede.
Estou falando de um tempo em que a Internet não é apenas meio de comunicação como o rádio e a TV. Pensar assim é o prenúncio do conflito entre as gerações.
Entendo que, simplesmente, existe hoje uma desterritorialização da experiência humana. Se gosto ou não disso, resolvo com o meu analista. O fato é que as pessoas fazem amigos, negócios, tarefas, compras e sexo num não-local. Para muitas pessoas, os buracos das ruas importam menos do que a qualidade da conexão naquele espaço e isso é uma preocupação da vida real. Quer dizer: pessoas vivem de verdade no que poderíamos chamar de não-território e, nem por isso, são menos pessoas.
Vivendo, realmente, no não-espaço, é de se esperar que também alí a política - ou seja lá o novo nome que queiramos dar à acomodação dos conflitos humanos - aflore como sempre ela aflorou onde pessoas convivem.
Esse é o distúrbio de visão: liberar a Internet como meio de comunicação política não significa entender sua dimensão como novo local de vivência humana e, portanto, de consequencias políticas.
Aguardo alguém que perceba a gravidade da questão.

Nenhum comentário: