domingo, 10 de janeiro de 2010

Freud e Garcia Marques


Tenho pensado em uma espécie de "Terapia Literária". Talvez não seja nada inovador, aliás, a esse respeito, acredito que nossas criações parecem tanto mais brilhantes e geniais quanto mais desinformados somos. As artes plásticas, há tempo, são utilizadas clinicamente, o mesmo com o teatro e a dança. Creio que a literatura também pode ser de grande utilidade no tratamento de patologias mentais.
Não se trata de procurar apoio para ilustrar síndromes e fobias nas obras literárias, como ouvi dizer que andam fazendo com as Mil e Uma Noites e já fizeram com o Chapeuzinho Vermelho. Não. Trata-se de uma terapia através da produção da literatura e não do seu consumo, ainda que isso também tenha espaço no tratamento.
Imagino algo como uma mistura de consultório psicanalítico freudiano com oficina literária de Gabriel Garcia Marques. Ainda não sei, contudo, se o processo deve ser individualizado ou em grupo. Conforme avançar com a idéia devo chegar a alguma conclusão. Não descarto a possibilidade de utilizar as duas formas de atendimento.
Minha experiência como analisado revelou-me a importância da auto-consciência sobre a forma com que venho vivendo minha própria vida. É a partir dela que sou capaz de perceber os erros e acertos e, mais do que isso, as minhas reais motivações de ação. Vejo então quando sou autor da minha própria história e quando a autoria da minha trajetória é roubada por outras versões de mim mesmo. Versões cuja falta de talento para escrever a história que desejo já ficou comprovada em outros capítulos.
Minha experiência de escritor tornou-me clara uma das maiores dificuldades da escrita: escolher e tornar crível o narrador. Nada me parece mais desafiador ao escrever do que alimentar a vitalidade do narrador em detrimento do ego de quem escreve. É preciso, antes de inventar uma história, inventar um narrador capaz de contá-la. Isso exige do escritor a capacidade de construir uma outra consciência que não a própria e, ao mesmo tempo, manter sob controle e vigilância essa consciência. Se o narrador é o assassino, essa consciência de assassino só surgirá quando estou escrevendo. Aprendo a desenvolver, deliberadamente, esquizofrenias absolutamente controladas.
A excência da Terapia Literária, então, está no seguinte: ao praticar literatura, ou seja, ao tentar escrever histórias e, portanto, encarar os desafios de uma narrativa, o paciente terá mais facilidade para compreender a "dinâmica" dos seus próprios problemas psicológicos. A partir daí, o arcabouço freudiano poderá ser apresentado como o conjunto das intercorrências que costumam dificultar a construção e consequente narração de uma vida sadia.
O resultado esperado é que o paciente, aos poucos, vá assumindo a autoria de sua própria história.
Não se objetiva, porém, qualquer prodígio do ponto de vista literário, trata-se apenas de exercício com fim terapeutico.

2 comentários:

Maria Lucia Putini Barsuglia CRP 06/35199-1 disse...

Olá, como começou a acompanhar meu blog, passei aqui para dar uma olhada no seu. Achei muito interessante sua matéria sobre uma possível Terapia Literária. Afinal, à muitas pessoas os livros ajudam a vencer grandes paradigmas. Alias, postei as regras se quiser dar uma olhadinha.

crbrasil disse...

rsrsrsr, qiéqiéisso...eitacomentárioporreta!!!!!!!