domingo, 5 de junho de 2011

O diabo no elevador

Não creio que seja mentira. Tenho boas razões para acreditar.
Disse meu amigo que, uma noite dessas, estava tão triste e tão chapado que realmente não sabia se ia deitar, ou se pulava do décimo segundo andar. Em meio à dúvida percebeu que estava sem cigarros, pareceu-lhe essa, uma questão mais importante. Adiou a decisão sobre se o sono circunstancial ou se o eterno e tomou o elevador.
No meio do trajeto descendente, ele não sabe dizer em que andar, entrou sem qualquer pirotecnia, o diabo em pessoa. Segundo ele, não tinha chifres. Estava de terno de linho cinza chumo e sem gravata,  foi relativamente simpático. Não deu pinta de satanás. Não até que meu amigo olhasse para os seus pés, - o elevador é um dos poucos lugares onde se olha para os pés das pessoas - parece que tinha mesmo pés de cabra. De acordo com o meu amigo, a visão da barra da calça amassada roçando aqueles gambitos peludos acima do casco foi tão aterrorizante que ele literalmente se cagou inteiro.
Já ciente de que era o capeta, contou que pela primeira vez na vida teve o ímpeto de apertar o botão de emergência do elevador. Não deu tempo, a descida aumentou de velocidade, paralizou seus movimentos, pareceu-lhe queda livre.
Apavorado, olhou então para os olhos vermelhos do danado e eis o diálogo entre os dois:
Está caindo!?
Não, apenas descendo.
Está rápido demais!
É assim mesmo.
Você é o diabo!?
E você, quem é?
Você vai me levar para o inferno!?
Quando tomei o elevador você já estava.
Eu não quero ir, pára, por favor!
Aonde quer descer, onde quer parar?
No... térreo.
Não estará mais abaixo o seu veículo?
Sim... mas... vou andando.
En†ão melhor apertar o botão do térreo. E melhor tomar o elevador correto da próxima vez.
Mas que diabo de elevador é esse, então!?
Isso mesmo, é o meu! E ele só vai parar no térreo para que você desça, por que não estou de serviço agora, vim apenas visitar minha irmã do 83. E também porque não estou suportando o seu maldito cheiro.
Segundo o relato do meu amigo, quando ele se deu conta de si, já estava na calçada do prédio. Disse que ficou viajando mais um pouco na história de ter sido não apenas apavorado, mas também humilhado pelo diabo no elevador. Pensou em desistir dos cigarros, mas acabou se arrastando até o bar como um indigente mal cheiroso.
Por que ele mentiria numa coisa destas?

Nenhum comentário: