domingo, 20 de novembro de 2011

Santa Paciência

Quando era criança sabia o dia e a hora certa da série de televisão que gostava e esperava por ela ansioso. Não importa qual era, não é disso que se trata. Talvez fosse " Cyborg: O Homem de Seis Milhões de Dólares", "Ultamen", ou qualquer outra bobagem como as que existem hoje.
Com outras coisas era parecido: refrigerante no fim de semana; a mulher do yakut que passava na porta de casa exatamente ao meio dia; brinquedos no aniversário e no natal; tênis e roupas novas só quando meus pais podiam e achavam necessário; viagens nas férias; compras de supermercado, uma vez por mês...
Quando adolescente, também era assim. Namorava um disco por meses e, enquanto isso, me satisfazia esperando tocar no rádio uma das músicas queridas para gravar em fita cassete, me esmerando para pausar antes do locutor falar qualquer coisa. Uma volta de fusca no quarteirão, na hora de manobrar o carro durante a farsante lavagem de sábado. Dias e dias esperando, pelo correio, uma resposta de uma nova amiga da praia, cuja amizade povoava meus sonhos de cada noite. Ir ao cinema com amigos e tomar lanche depois era um evento que exigia planejamento e economias. A insegurança de uma namorada para qualquer ousadia era uma espera conjunta e sagrada.
Logo fui trabalhar e, como no trabalho ninguém esperava muito pelas coisas, comecei a perder a paciência também. Passei a saber esperar apenas as duas coisas que te ensinam a esperar: a hora de ir embora e o dia do pagamento. Todo o resto comecei a querer agora.
Enquanto isso, o mundo acelerou e hoje parece que a lógica que aprendi trabalhando é a mesma lógica das crianças, dos adolescentes, dos adultos, dos artistas e dos poetas.
Não sei como vai ser para quem já nasceu num mundo impaciente, onde se baixa na hora todos os episódios da série e um minuto num chat parece uma eternidade. Não digo que antes era melhor. Mas sinto que para desfrutar as melhores coisas que a vida oferece: uma criança crescer, um botão de rosa abrir, o baixar da maré, um pássaro construir seu ninho, o sol terminar de se pôr, um amor verdadeiro ser reconhecido... é preciso ter paciência.

Um comentário:

Gio Sacche disse...

Acordei puta da vida. Seis e pouco da manhã, acordo a esse horário todo dia e espero o final de semana para descansar até umas oito (sempre acordei com as galinhas mesmo). QUE RAIVA, é domingo e ainda me sinto cansada, estressada, com pressa...

Paciência, o dia que eu souber aonde eu encontro, sempre precisar tomar o meu ansiolítico serei uma pessoa mais feliz. Agora, às vinte e uma horas, já estou caindo de sono e pretendo fazer um layout. Paciência...