domingo, 27 de julho de 2008

CONFLITOS MUNDIAIS: Por quem os sinos dobram?


MAIS DE 25 MILHÕES DE PESSOAS PERAMBULAM HOJE DE UM LADO PARA OUTRO DO PLANETA EM BUSCA DE REFÚGIO. A GRANDE MAIORIA FOGE DE GUERRAS.

Artigo publicado na Revista Caros Amigos em Setembro de 2008, Edição 138.

Israel simula operações militares de invasão do Irã; o Irã realiza testes com mísseis que podem atingir Israel e posições americanas na região; aumenta o preço do petróleo; os EUA reforçam seu apoio aos aliados e robustecem seu projeto de escudo anti-mísseis na Europa, o que torna os russos mais irritadiços. O crescimento da tensão faz com que analistas calculem em 50% as chances de uma guerra contra o Irã durante esse ano em que Bush ainda é senhor dos senhores das armas.
Cenários como esse costumam interessar bastante aos grandes mascates de notícias, pois o que vem na seqüência quase sempre é um espetáculo de horrores com bombardeios ao vivo, correspondentes próximos ao campo de batalha e depoimentos emocionantes daqueles que ficaram presos no aeroporto antes de poder voltar seguros para suas casas. Quando o assunto está saturado e a “notícia-commodity“ em baixa cotação, especula-se com outro tema. Mas os desdobramentos e conseqüências, independentemente das suas proporções continuam repercutindo por anos e anos sem que a grande mídia faça caso.
Exemplo disso é a informação do 2007 Global Trends publicado pelo ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Assuntos de Refugiados) segundo a qual apenas na Síria e na Jordânia vivem hoje pelo menos 2 milhões de refugiados de guerra iraquianos. A rigor talvez o ACNUR não os considere tecnicamente como refugiados de guerra, mas quem sabe algo como desterrados result of the volatile situation in Iraq, dá no mesmo. Cada vez que se decide pelo conflito armado em qualquer lugar, inicia-se um drama humano de conseqüências, essas sim, globalizadas.
Calcula-se que existam hoje mais de 25 milhões de pessoas buscando refúgio em outros países em conseqüência de guerras, conflitos internos, perseguições políticas e fome entre outros flagelos.
Só a invasão norte-americana do Afeganistão, que nem chegou a ser tão polêmica quanto a do Iraque em função de sua irrefletida legitimidade face aos atentados de 11 de setembro, provocou a peregrinação de de mais de 3 milhões de homens, mulheres e crianças afegãos que, na sua maioria, foram encontrar abrigo no visinho Paquistão. O conflito interno no Sudão entre muçulmanos do norte e cristãos do sul fez com que 523 mil sudaneses deixassem o país em busca da reconstrução de suas vidas. Um número próximo, 457 mil, é o de somalis que fugiram das lutas religiosas de sua terra natal.
Aqui, mais proximamente, a dispeito da discussão sobre a narco-contaminação do projeto das FARCs e a postura entreguista e intransigente do governo Álvaro Uribe, o dado concreto, como diria o presidente Lula, é que a Colômbia ocupa o terceiro lugar no mundo como país exportador de refugiados: 552 mil. E, quando se fala em deslocamento interno de população, nossos compadres são atualmente os campeões mundiais com mais de 3 milhões.
Estima-se que no Brasil vivam ilegalmente hoje mais de 100.000 colombianos, que vieram em conseqüência da guerra civil que enfrentam em seu país. Almoçamos, negociamos, amamos, odiamos e temos filhos também com alguém dos, no mínimo 140 mil libaneses; 50 mil palestinos e, entre 30 e 70 mil angolanos que optaram por lidar aqui com seus dramas e traumas de guerra.
Guerra e Paz, portanto, são temas dos quais ninguém pode se dizer alheio, seja onde for. Sendo assim, independente do que a grande mídia destaca, sempre que qualquer um estiver declarando guerra, devemos nos preocupar, nos posicionar e nos fazer ouvir.
Lembro-me do impacto da descoberta quando vi o filme “Por quem os sinos dobram?“, baseado no livro de Hernest Hemingwey. A história, sobre a Guerra Civil Espanhola, começava falando da tradição de se tocar o sino nas pequenas cidades espanholas sempre que alguém morria. Quando dobravam os sinos, era inevitável a pergunta: por quem os sinos dobram? Acho que a resposta era mais ou menos assim: sempre que morre alguém, morre parte da humanidade, morre um pouco de todo mundo. Então, não me pergunte por quem os sinos dobram, eles dobram sempre por ti.

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