terça-feira, 16 de setembro de 2008

Lula, Chaves e a crise na Bolívia


Não há dúvida. Evo Morales é vítima de uma tentativa de golpe que pode se transformar numa guerra civil se a América Latina virar as costas. Mais do que isso: se o Brasil e o Presidente Lula virarem as costas.
O índio Morales consolidou sua posição como liderança legítima e democrática da Bolívia no plebiscito revogatório realizado em agosto de 2008. A oposição dos departamentos do leste do país não engoliu. Trata-se de uma oposição raivosa, racista e rancorosa para a qual o adjetivo fascista não é simples jargão da esquerda. Inconformados os opositores lançaram uma ofensiva desestabilizadora contra o governo Evo.
Representante da minúscula mas poderosa elite econômica da Bolívia, a oposição que controla diversos departamentos do leste do país ameaça rasgar a nação mergulhando-a numa luta fratricida.
Existem fortes indícios, além da força da tradição, de que os desafetos locais de Morales contam com apoio moral e financeiro dos Estados Unidos. Autoridades bolivianas constataram o vínculo e o presidente expulsou o embaixador americano, Philip Goldberg.
Hugo Chaves da Venezuela está com Evo e não abre; também exigiu que o embaixador americano deixasse Caracas. Se existe ingerência americana nos assuntos bolivianos de um lado, a solidariedade bolivarista impõe que se ajude o outro lado também. Esse é o problema.
Embora correto no mérito, a forma de ação de Chaves tende a contribuir com o crescimento das divergências e não com o contrário. Nesse momento e por isso, o Presidente Lula me parece a peça mais importante do jogo diplomático. Cabe a Lula conter os excessos do colega venezuelano mantendo a essência de sua pregação. Nesse caso será preciso dizer sim: yankees, go home!, mas da maneira equilibrada que vem caracterizando a atuação do presidente brasileiro.
A eqüidistância e a capacidade de interlocução do Brasil com os mais temperamentais envolvidos na questão fazem de Lula um aliado indispensável a Evo Morales e ao restabelecimento da paz na Bolívia. Talvez o único com credenciais para intermediar uma negociação entre Governo e oposição e assim conter a escalada da guerra civil.
As relações diplomáticas na América Latina têm hoje dois grandes protagonistas: Chaves e Lula. Ao contrário dos que apostam numa disputa entre ambos pela hegemonia, sou da opinião de que agem em conjunto, como o tira malvado e o tira bonzinho dos filmes policiais americanos. O malvado ameaça e o bonzinho extrai a confissão.

5 comentários:

Unknown disse...

Fico muito preocupado se o Lula e o Brasil terá abilidade para articular um plano pacificador com Evo e Chavez, afinal quando o assunto é "diplomático" penso que o Lula é o primeiro a sair correndo, afinal ele correu dos seus diplomas na escola. Mas também não é só por esse motivo, afinal, mesmo sem diplomas, o Lula chegou onde chegou e é o presidente com mais popularidade! Não tem argumentos para contrariar o povo. O povo é a verdade da nação. Lulinha, mesmo sem diploma tem grande qualidades, que não podemos subjulga-lás, porém com seu companheirismo para cá e para lá... ele sempre dá um jeitinho de sair bem na foto.

daniela disse...

Parabéns!Me lembro que seu aniversário é neste mês.

RafaZig disse...

Muito bom o blog Newton

Me lembro que fiz um esboço de um projeto gráfico pra ele há muitos anos atrás. Que bom que a velha idéia se tornou realidade. A Internet realmente é incrível por dar voz a pessoas que não nasceram nas camadas que já tem todas as portas abertas.
Parabéns e longa vida a este blog, já está nos meus favoritos.
Abração
Rafael Suarez Ziegelmaier

Rodolfo Vianna disse...

Pelego!

Rodolfo.

Anônimo disse...

É com esses fatos e, de certa maneira, 'por' esses fatos que chegamos a idéia de que o homem-para-dentro é o melhor objeto, sem dúvidas. Mesmo com suas fraquezas, é lindo vê-lo. Já olhar o homem-para-fora é lamentável... Mas é este que gera a sublimação do outro: devemos isso ao homem social - esse homem enfadonho.

Se pudesse fazer um pedido, gostaria de ler algo escrito por você sobre esse mundo dos limites, por assim dizer, em que a fronteira é o próprio homem. O mundo 'de dentro', das idéias.
Geralmente,os historiadores são, ou tornam-se, um tanto quanto petrificados, devido ao universo objetivo que manipulam. Qual será sua visão do impalpável?