Sempre fui contra doenças, assim como sou contra a morte de pessoas legais, contra terremotos, ciclones e tissunames. Acho que tudo isso atenta contra a grandiosidade e a dignidade da espécie humana. Protestarei até o fim contra esse tipo de barbárie.
As doenças, contudo, parecem-me hoje o mais sombrio dos flagelos. Isso porque cheguei a ter esperanças de que nossa inteligência fosse realmente capaz de aplacá-las. Nutria uma ingênua admiração pelos doutores que em minha fantasia, com seus trajes brancos e estetoscópios pendentes, perdiam noites e noites tentando decifrar as sórdidas armas com que as moléstias insidiosas nos acometiam cada vez que praticávamos aquilo que é mais humano em nós: os excessos, os vícios e a auto-destruição necessária ao viver.
Infelizmente constato que o nosso alvo exército rendeu-se ou foi cooptado. Após o longo percurso desde Hipócrates, as 10 principais prescrições da classe médica são hoje:
1) jamais fique doente, especialmente se não puder pagar o convênio ou se for conveniado;
2) se ficar, pare imediatamente com o cigarro, a bebida, os carbo-hidratos e faça exercícios leves. Caso seja particular, guarde um tempo para você.
3) não é possível saber exatamente qual é a sua doença, mas trata-se de uma doença idiopática;
4) seja qual for, a probabilidade de ela te matar é de 50%;
5) tome esse remédio desse parceiro e vamos repetir o exame nesse laboratório;
6) sempre há risco, mas é melhor operar;
7) sem o meu anestesista e o meu instrumentador é provável que você morra na cirurgia;
8) o plano não cobre, mas eu divido em três cheques;
9) quando eu não sou o plantonista do hospital, o plantonista costuma preferir que você morra.
10) o que era possível fazer foi feito, agora está nas mãos de Deus.
sábado, 17 de outubro de 2009
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Um comentário:
"quando a gente nasce já começa a morrer"... "é a única certeza da vida..." vivendo com os excessos ou não.
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