quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Rio 2016

Não vejo como não comemorar a escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016. Faz bem para a auto-estima brasileira; ajuda na cura do nosso complexo de vira-latas; ambienta o esporte mundial num cenário de encantos mil; desafia nossa capacidade de fazer bem feito e trás perspectivas reais de dividendos.
Creio, porém, que o melhor de tudo isso seja o estímulo para que pensemos nos incontáveis problemas do Rio de Janeiro de uma maneira diferente da que já se tornou costume: não se trata agora de simplesmente constatar, lastimar e comentar a gravidade da violência e das distorções sociais da cidade. Será preciso encontrar e praticar soluções. E será necessário fazer isso tudo até 2016.
Ainda que de forma mais ou menos colonizada, o fato é que temos prazo para executar a tarefa, nem que seja tão somente porque o mundo inteiro vai cobrar isso de nós. Uma nação segura certamente não esperaria esse estímulo externo, mas sejamos auto-indulgentes com isso.
Penso que na puberdade de suas tensões políticas e, consequentemente, eleitorais, a classe dirigente do país tenha perdido - se é que chegou a ter - a capacidade de planejamento para além de seus mandatos. E penso também que, fora do contexto revolucionário, sem planejamento de médio e longo prazo, não há solução.
Sendo assim, me anima imaginar que os gestores públicos tenham que atuar agora, obrigatoriamente, de acordo com uma agenda que não seja exclusivamente a dos seus próprios compromissos políticos. Mudem ou não os quadros e os partidos dos governos federal, estadual e municipal, existe uma contingência clara e maior: tornar o Rio de Janeiro uma cidade capaz de recepcionar os Jogos Olímpicos em 2016.
Lembro, então, ainda que essa coisa de superação de limites físicos não chegue a me fascinar, que os conflitos entre as cidades-estado gregas eram suspensos por ocasião das Olimpíadas e tornava-se crime sem limites, por exemplo, danificar as oliveiras da cidade inimiga. Talvez o exemplo valha como metáfora para as rivalidades políticas do Brasil de 2009 a 2016.
Toda essa argumentação, contudo, arrisca ser falaciosa se o empenho pelos Jogos Olímpicos do Rio restringir-se a medidas cosméticas, temporárias e enganosas. Mas se isso aontecer, a culpa será nossa.

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