segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Um segredo masculino


Ilustração: Jo Fevereiro

Separei o especial de hoje da Folha de São Paulo sobre comportamento sexual, mas ainda não li. Fiz questão de não ler, porque já tinha esse artigo em mente e não queria influências circunstanciais. Talvez reveja minhas impressões à luz de tão científica pesquisa, talvez não.
O segredo que queria divulgar, sem pedir perdão ao gênero, com o qual não me sinto inspirado a ser solidário, é o seguinte:
Mesmo tendo em vista uma relação conjugal sinceramente amorosa e razoavelmente harmônica, entre duas pessoas suficientemente íntegras e inteligentes, os homens tendem a decepcionar suas mulheres por conta de seu interesse por outras mulheres. E isso ocorre, na minha visão, por tres razões fundamentais.
Primeiro. Salvo contingências vinculadas a discrepâncias etárias, ou a distúrbios psicológicos, em geral, os homens tem um apreço pelo sexo mais entusiasmado do que as mulheres.
Segundo. Salvo os casos em que a questão tenha sido psicologicamente trabalhada, os homens, diferentemente das mulheres, tem uma necessidade maior de reconhecimento e acolhimento de tipo maternal.
Terceiro. Salvo convicção equivocada, ou absolutamente resolvida, o homem quer se perpetuar através dela.
Traduzindo: um homem comum espera de sua mulher sexo incondicional; admiração por seus feitos e acalanto por seus fracassos, sem que isso comprometa sua "infinita" potência; e quer ter filhos com ela.
Qual mulher sozinha é capaz de reconher tantas carências e de responder a elas com a presteza exigida sem comprometer suas próprias individualidade, necessidade, aspirações e querências?
Sempre generalizando um pouco, pois sem isso não é possível refletir a respeito, é certo que, em algum momento desse natural descompasso, o homem reconheça em qualquer mulher das que o circundam, maior entusiasmo para o sexo, mais pronta disposição para o acolhimento do guerreiro, ou maior apelo à procriação. Afinal, essa capacidade eventual existe em todas as mulheres, inclusive nas com as quais se casaram.
Pensando, e correndo os riscos intelectuais por isso, que o casamento ou a união matrimonial em nosso tempo ainda tenha um peso moral maior para as mulheres do que para os homens, é bem possível que ele não seja capaz de subordinar suas aflições instantâneas a um pacto mais subjetivo de fidelidade.
Quer dizer: mulheres sensuais dispostas ao sexo total; mulheres santas e devotadas, ou mulheres naturalmente férteis aspirando a procriação, todas elas podem ser um convite irrecusável ao delito conjugal.

Um comentário:

Unknown disse...

Abordando empiricamente essa questão, costumo ver o interesse exacerbado dos homens pelas “outras mulheres”, como um resquício temporão do macho alfa. Durante milhares e milhares de milênios, fomos (desde o Australopithecus) uma das muitas espécies que evoluiram biologicamente através desse método eficaz de seleção genética... Ao mais forte, o direito de reproduzir. O processo civilizatório incorporou novos hábitos, que possibilitaram maior estabilidade para grupos mais complexos de indivíduos e atividades. Consequentemente, o acesso à reprodução foi se tornando mais democrático, com variações morais e comportamentais ditadas pela raiz cultural, religião, organização social, etc... de cada grupo. A partir da consolidação de uma moral dita judaico-cristã, implantou-se um padrão mais ou menos generalizado de monogamia do qual, segundo exemplos históricos, a própria igreja católica se incumbe de evidenciar a hipocrisia... Dos primórdios da idade média, até aos dias atuais. Nesse meio tempo entre a obsoletização do macho alfa e a monogamia, os machos de beta a ômega foram botando as manguinhas de fora, e as mulheres também. Aliás, imagino que nesse período deve ter começado a se desenvolver um sentimento novo e difícil de definir que, após uma disseminação mais ou menos caótica e com um leque imenso de interpretações, se convencionou chamar de amor. Aquele ícone do “alfa todo-poderoso”, belo, forte, invencível, líder, se pulverizou em sub-atributos como: esperto, bonitinho, lutador, vencedor, inteligente, rico, culto, talentoso, simpático, etc., cada um deles capaz de, por si só, atrair o interesse de alguma ou várias mulheres, mesmo que o atributo positivo não combinasse necessariamente com o negativo, como por exemplo: rico e velho, bonito e burro, inteligente e fraco, simpático e feio, etc. Nesse novo campo de atuação, quem acabou dominando magistralmente os meandros do amor e da sedução, foi, sem dúvida, a mulher. Ela, se quiser, faz o que bem entender do homem. Essa inversão de superioridade cria, obviamente, insegurança no homem que, em sua maioria, sabe que não é alfa... Mas quer ser, e vejo aí uma fonte poderosa de motivação que o possa impelir para cima de todas as mulheres atraentes que encontrar.