As palavras já foram consideradas mágicas, quer dizer, detentoras de poderes mágicos. Em agrupamentos humanos remotos, pessoas economizavam até na divulgação de seus próprios nomes para evitar feitiços e sortilégios. Sob o efeito da palavra ouvida, guerreiros já provocaram e finalizaram guerras. Até hoje ainda persistem truques para dizer o nome de um morto sem correr risco de ônus mágico, "que deus o tenha". "Saúde" anida se profere gratuitamente a quem espirra.
Por alguma razão, quem sabe a profusão de palavras más, ou talvez a melancolia de quem costuma ser rigoroso demais consigo mesmo, estamos mais suscetíveis, em nossos tempos, à maldição do que à bendição. Ecoa mais nos nossos ouvidos e corações a injúria e a ofensa, do que o elogio e as palvras de afeto, perdão e compreensão.
Lembramos no nosso dia da única pessoa que não respondeu ao nosso bom dia e de nenhuma das outras que o retribuíram com sorriso. Da que nos sonegou palavra e não das que nos agradeceram por qualquer pequena gentileza.
Sobrepesamos a crítica, mas o reconhecimento não movimenta os pratos da balança. Ficamos incomodados com o que talvez seja uma ironia maldosa, mas não nos permeia com a mesma facilidade uma evidente e bondosa homenagem. Não nos casamos mais cada vez que ouvimos "eu te amo", mas estamos prontos a nos separarar ao primeiro "tenho dúvidas quanto ao meu amor".
Fica então a seguinte pergunta: se as palavras ainda carregam magia consigo - e acho que carregam sim -, porque não apreciar mais e melhor os seus bons encantos?
quarta-feira, 23 de junho de 2010
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Um comentário:
"Ecoa mais nos nossos ouvidos e corações a injúria e a ofensa, do que o elogio e as palvras de afeto..." Esse pessimismo de sempre.. Não posso criticar.. Costumo ser assim!
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