sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Esperar sem enlouquecer


Acordei, uma madrugada dessas, ansioso com o resgate dos mineiros chilenos. Fiquei, como muita gente, bastante aliviado ao saber que tudo estava correndo bem e que, um a um, todos iam sendo trazidos à superfície sãos e salvos. Talvez estivesse me sentindo também um pouco soterrado junto com eles. Em parte por compaixão, solidariedade no sofrimento alheio, em parte pela asfixia própria dos desabamentos nossos de cada dia. Quem é que, vivendo a vida cercado de pessoas, expectativas e forças naturais, não se sente desolado, de vez em quando, num espaço reduzido, sombrio e desprovido, sonhando com uma operação externa de resgate?
Creio que o mais emocianante de todo esse episódio tenha sido perceber que, contrariando vários ensinamentos, às vezes nosso destino e nossa felicidade depende mais da importância que os outros nos conferem, do que das nossas próprias ações. Não recomendo, de forma alguma, levar a vida apostando nisso, perderíamos então nossa ilusão de autodeterminação tão necessária a muitas de nossas realizações. Mas o precedente permite pensar que, em certas circunstâncias, nossa única parcela de colaboração com a própria salvação é o discernimento das próprias limitações e a fibra para resistir um pouco mais. Não falo nem da esperança, mas compreendo a importância dela para nos animar a resistir um pouco mais. Falo apenas daquilo que se pode intentar: compreender a situação e resistir. Esperança e fé, tem-se ou não.
Os mineiros do Chile entenderam logo sua situação e conseguiram resitir. Aqui fora operou-se um milagre, um belo milagre humano! Daqueles que tanto dignificam e justificam nossa humanidade. Voltaire, uma vez, por conta do terremoto que destruiu Lisboa em 1755, subiu ao púpito do parlamento francês para dizer que era contra o terremoto. Foi assim também no Chile, o povo e as autoridades foram contra o desabamento e a favor dos mineiros. Fizeram uso da capacidade humana reunida e da vontade humana de realizar, assumiram os custos inerentes ao trabalho e, simplesmente, resgataram os mineiros. Que coisa linda! É, ou não, muito mais do que andar sobre as águas por puro exibicionismo?
Eresias a parte, lembro que os mineiros saíram salvos por mérito alheio, mas saíram sãos e sobreviveram para sair, por mérito próprio.
Às vezes, apenas esperar confinado, lidando com a escassez e cuidando para manter a sanidade é o mais sábio e digno a fazer, mesmo em catástrofes individuais. A humanidade e o outro são capazes de ser contra aquilo cuja culpa não importa.
Viva Chile!

Um comentário:

Macumba: disse...

Sou a favor de você, Ni.

P.S.: Jesus sabia nadar.