quinta-feira, 1 de abril de 2010

Convite ao Divã


Ilustração: Jo Fevereiro

Pessoas por quem possuo profunda admiração intelectual e afetos dos melhores já me disseram que entendem a necessidade de fazer análise, mas não fazem por achar que sua capacidade de auto-análise tem bastado, "por enquanto".
Quero compartilhar uma reflexão, recém refletida, que pode contribuir para acelerar esse processo, um dos poucos que hoje eu recomendaria a alguém que apressasse. Creio mesmo que a auto-análise basta por um tempo e que aqueles que sempre a cultivaram são pessoas bem diferentes. E, do meu ponto de vista, aquelas que mais me cativam. Creio, porém, que chega um ponto em que a auto-análise deixa de ser eficiente.
"Intuo que a razão" disso esteja mais próxima do seguinte: tem uma hora em que não queremos mais sínteses a nosso respeito. Estamos mais dispostos ou obrigados a lidar e conviver com as nossas próprias incapacidades e incoerências. O problema é que, quando pensamos sozinhos sobre nós mesmos, não nos é possível deixar de realizar a síntese, ou a reunião do que foi pensado. Seria, mais ou menos o seguinte: se eu tentar olhar para mim mesmo, para ver como realmente sou, os olhos que me verão serão sempre os olhos que queriam me ver e a visão de mim mesmo será, então, sempre alterada por eles.
Não sei se me esclareço, mas sempre posso tornar-me mais obscuro tentando: se todo objeto é objeto de um sujeito, como então poderia eu, que sou o sujeito de qualquer coisa que realize, fazer-me objeto de minha própria análise?
Acho que é por isso que Psicanálise é Psicanálise e não "Psicosíntese". Chega o momento em que não se trata mais de nos explicarmos para nós mesmos, mas talvez apenas de buscar uma assistência nessa outra fase confusa em que, para viver a vida, a razão não é mais suficiente e a religião ainda impossível.
Em síntese: "Freud não explica ninguém, nunca quis explicar!" Mas a análise pode ajudar a viver com as dúvidas que a auto-análise insistirá em tentar sanar.

4 comentários:

Newton Duarte Molon disse...

Querido Jo, essa ilustração é simplesmente genial!

Unknown disse...

Meu caro Newton, eu apenas fui muito feliz ao encontrar esse quadro (não creditado) pela internet. Minha única contribuição, foi adicionar o Freud encarando as faces escondidas. Acho que traduz com eficiência o teu ótimo texto.

Rodolfo Vianna disse...

Eu não entendi esse texto...

Iasmyn Montenegro disse...

Texto muito bom. Não acredito muito em auto análise, não acho muito eficiente, a não ser que essa venha depois de uma análise. Todos tem traumas inconscientes que uma auto análise, acredito, não é capaz de resolver assim, tão facilmente.