sexta-feira, 16 de abril de 2010

A doença está na certeza e não na dúvida


Ilustração: Jo Fevereiro

Quem está feliz o tempo todo, ou é bobo, ou atingiu um estado de beatitude que eu não consigo alcançar. Vale quase o mesmo para quem está triste o tempo todo, ou é bobo, ou chegou a um nível de descrença que eu não quero chegar.
Os não bobos estão entre nós, oscilando assustados entre horas tão tristes e outras horas tão... tão felizes. A vós eu dirijo essa reflexão.
Não odeie tanto sua tristeza, nem leve-a tão a sério como gostamos de fazer. Aprenda com ela sobre você mesmo, guarde isso. Repare como a próxima tristeza igual, já não será mais tão triste. Ficamos mais sutis para com as tristezas. Não ame tanto, também, suas alegrias. Pelo menos não tanto, a ponto de se apaixonar por elas. Elas são boas, mas não são tudo. Guarde isso também. Ficamos menos reféns delas. Deixe que venham as tristezas e as alegrias quando elas tiverem de vir, sem o desespero das primeiras e nem a obsessão pelas últimas.
Quero dizer, assim, que essa capacidade de transitar confuso entre os polos é um sintoma da saúde mental das pessoas e não o contrário. A doença está na certeza e não na dúvida, na fixidez e não no movimento. Henri Bergson fala do equilíbrio como algo dinâmico e não estático.
Exercite regularmente, portanto, tristezas e alegreias na medida em que isso não te provoque muita dor, pois ainda não pensei em alongamentos para evitar esse tipo de distensão.
Vivencie com temperança e sabedoria seus conflitos e suas oscilações, porque, a menos que você enlouqueça completamente, a tendência é que você os tenha até o último suspiro.

3 comentários:

Rodolfo Vianna disse...

Ah, sempre o meio-termo aristotélico... tão démodé para os movidos a pulsões.

Unknown disse...

CONCORDO... ah, se concordo. Tudo que promove (e provém) de exageros exarcebados culmina na desregulação. Tristeza é bom, pois ensina e cria defesas.. e alegrias são boas também, pois glorificam e mantem acesa a chama da vontade.

Mas se forem "dispendiosamente aproveitadas", podem gerar um novo fato, que novamente gererá uma alegria, ou uma tristeza. Chamamos isso de "invólucro emocional" - sentimentos que geram sentimentos que geram mais outros sentimentos... e é uma armadilha!!!

E é isso aê!!! Abração, prôfe!!!

Unknown disse...

Olha, não tinha um momento melhor pra eu ler esse seu texto que está, como sempre, maravilhoso!
Me faz um bem enorme, viu.. Parabéns!
Beijo grande!