Ilustração: Jo Fevereiro
Estou intrigado com uma coisa: qual será o real significado da atual mudança de nomenclatura dos coletivos musicais?
Estou chamando de coletivos musicais as pessoas que se reunem para tocar instrumentos e cantar, um hábito bastante comum e antigo entre os seres humanos.
Esclareço a inquietação sem retroceder muito no tempo. Décadas atrás falava-se em "conjuntos" musicais; também já se usou dizer "grupos" de música; os mais jovens se acostumaram com a idéia de "bandas" desse ou daquele estilo. Hoje um novo termo vem se consagrando: "projetos musicais".
Será mais um traço da chamada pós-modernidade que, em sua pressa, só educa os olhares e os ouvidos para o que é efêmero? Sempre que ouço o termo, ainda que associado a excelentes resultados musicais, não deixo de pensar que trata-se de algo feito para não perdurar. Quem ouviu, ouviu.
Talvez essa dificuldade para construir, cultivar e suportar relações sólidas e duradouras que marca o nosso tempo tenha invadido também os coletivos musicais. Não há mais como nem porquê obrigar a convivência das próprias vaidades e idiossincrasias com as dos demais integrantes de um grupo. Temos um projeto musical; nos reunimos, ou às vezes nem precisamos desse contado todo, e realizamos o "projeto". Depois cada um segue o seu caminho e foi bom - ou não - para todo mundo.
É justo, mas não é animador, como dizia um personagem de Gorki. Não se trata de lamentar, afinal, nem sei o que se perde e o que se ganha com isso, talvez a Billboard saiba, ou melhor ainda as publicações que sobrevivem das intrigas e querelas internas dos grupos. Tento apenas compreender.
Só não me animo por pensar que essa lógica se parece um pouco com a dos grupos de trabalho do ambiente corporativo, organizado não mais de forma hierárquica e sim matricial, com lideranças alternadas, criações coletivas e outras histórias. Tudo em função de cada projeto.
Não duvido da eficiência do formato, nem nas empresas, nem nos "empreendimentos" musicais. Mas penso que, se no primeiro caso, a eficiência tem medida certa e critérios objetivos de apuração, no segundo não precisava ter. Aliás, entre outras coisas, era a falta disso que costumava filiar a música à arte.
Prevejo para os próximos anos um curso universitário concorrido de Arquitetura de Empreendimentos Musicais, como já existe para DJs e, quem sabe, para Street Artists.
Também não gosto muito, mas prefiro quando é o mercado quem busca inspiração na arte.