segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Presentes da vida

Encontrei uma amiga que não via há 15 anos. Num café, me contou que casou, descasou, foi embora para Dublin, trabalhou em call center, virou puta, casou de novo, teve problemas com as drogas e com a polícia (não tem mais com a polícia), perdeu um filho, dirigiu metrô na Suécia e ganhou prêmio de barista em Nápoles. Enfim uma vida muito parecida com a minha nos últimos 15 anos. Não falo do enredo em sí, mas das descontinuidades, infortúnios e alegrias que a vida também me conferiu.
Lembrou com carinho de um livro que lhe dei de presente, uma vez, sem motivação reconhecida. Na verdade lembrou mais da dedicatória. Eu jamais lembraria: "... fique com ele. Te dou justamente por que me é querido". Disse que isso ressoou sempre, não em sua memória distante, mas em seu dia-a-dia. A questão é que quando dei o livro, ela me disse: "... mas você gosta tanto dele... vai me dar?".
Enfim... esse encontro me fez pensar, principalmente, duas coisas. A primeira é que não deveria causar espanto presentear com aquilo que se gosta. Acho que só assim se presenteia de verdade. Que significado verdadeiro pode ter para o outro, uma oferta que não significa nada para quem ofertou? (ok, sempre será possível atribuir um significado qualquer). Mas isso é como dar o que não é seu. A segunda é que, realmente, nada que fazemos ou dizemos fica impune. Amanhã, depois, ou em 15 anos, alguém sempre pode te mostrar algo que você fez ou disse e que gerou consequências. Ninguém sabe o impacto no outro da própria existencia. Ou seja, as histórias da nossa vida só terminam, mesmo, quando termina nossa vida, se é que terminam. De repente tudo começa de novo, por mais improvável que isso nos parecesse.

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