quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Quem é que pode dizer?

Estava sentado bem de frente para o mar. Na mesa ao lado um casal estava jantando. As únicas frases que pronunciaram durante quase quarenta minutos foram: "esse camarão está cru" e "não está não". Eram jovens e bonitos, mas pareciam tão entediados com a vida e consigo mesmos que me entristeceram. Tive vontade de separar os dois e conferir liberdade a cada um. De decretar solenemente que estavam desobrigados um com o outro e que podiam, a partir daquele momento, recobrar suas existências, seus sorrisos e suas esperanças. De massagear urgentemente seus corações, antes que parassem definitivamente de bater. Fiquei perplexo por não se darem conta de que já não havia nada entre eles. Enquanto bebia sozinho meu Dry Martini sem esperar por ninguém naquela noite enluarada, continuei refletindo arrogantemente sobre os relacionamentos vazios cultivados pelas pessoas.
Quando o casal se levantou senti uma espécie de alívio. Eles deram alguns passos, pararam, viraram um de frente para o outro e se beijaram um beijo de cinema. Permaneceram ali abraçados e olhando para a lua por alguns minutos, depois seguiram adiante de mão dadas.
Continuei com meus martinis, mas com outros pensamentos: que chance de equívoco julgar a consistência de uma relação, olhando de fora um casal. Que certeza de equívoco tentar fazê-lo olhando de dentro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Foi após uma refeição de puro tédio e desconforto com meu namorado que me fez rever o relacionamento e dar um ponto final.

Rodolfo Vianna disse...

Bravo! Bravíssimo!